Rabino e cardeal debatem desafios para o diálogo religioso

 


“Depois de dois mil anos conturbados, os últimos 50 foram de reaproximação entre cristãos e judeus. Hoje cultivamos uma relação de amizade e respeito”, afirmou o rabino Michel Schlesinger. “O ódio e o menosprezo precisam ser superados. O trabalho continua, mas fizemos grandes progressos”, acrescentou o cardeal Dom Odilo Scherer. Às vésperas da chegada do papa Francisco ao Brasil, o rabino e o cardeal participaram de um debate em São Paulo para lembrar os 50 anos do "Concílio Vaticano II", convocado pelo papa João XXIII, que deu início ao processo de aproximação entre judeus e católicos, e abordar os caminhos, sob o novo pontificado, para que este processo se capilarize entre as duas comunidades. Ambos lembraram a importância do trabalho feito por João XXIII e pelos que o sucederam: Paulo VI, que visitou Israel em 1964, quando o Estado judeu e o Vaticano não mantinham relações diplomáticas – o que só veio a ocorrer em 1993, sob João Paulo II - o papa polonês visitou o Muro das Lamentações e o Yad Vashem, além da Grande Sinagoga de Roma – gestos de grande conteúdo simbólico; e Bento XVI, que também visitou Israel e foi ao campo de extermínio de Auschwitz. “João Paulo II abraçou a causa do diálogo de forma sem precedentes, e Bento XVI seguiu seus passos”, destacou Dom Odilo. Os judeus participarão de forma contundente na visita do papa Francisco: o rabino Schlesinger irá à missa em Aparecida, no dia 24 de julho; jovens judeus, cristãos e muçulmanos participarão do primeiro seminário inter-religioso de juventude, dia 21 de julho, na PUC-Rio; e, também na capital fluminense, na Estação Central do Brasil, uma exposição organizada pela Embaixada de Israel e pela Federação Israelita/RJ mostrará imagens das visitas dos papas a Israel.
Com grande participação do público, o debate também tocou em temas delicados, como a relação da Igreja com a Inquisição e sua postura durante o Holocausto. Quanto ao primeiro tema, Dom Odilo respondeu que a Inquisição exerceu o Poder Judiciário quando não existia uma ordem democrática e que foram violadas muitas formas de consciência e de pensamento. Ele considera que a história da Inquisição ainda deve ser mais conhecida. Já Schlesinger afirmou que a visão da Inquisição para os judeus é profundamente negativa: “Nos vêm à mente a tortura, a morte, a expulsão da Península Ibérica”. Com relação ao Holocausto, o cardeal acredita que a Igreja fez muito para salvar judeus. “Se não fez mais, devem ser examinadas as circunstâncias: era possível? Acho que não devemos ver a questão sob um ponto de vista da instituição. Localmente, muitos católicos ajudaram judeus. Devemos lembrar também que os governos se omitiram”. Perguntado sobre a possibilidade de abertura, por Francisco, dos arquivos referentes ao papa Pio XII, Dom Odilo disse que a investigação é bem-vinda, mas não sabe quando os arquivos serão abertos.

Por: ALEF NEWS, edição 1806.

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