POR TRÁS DAS ESCRITURAS: uma introdução à exegese judaica e cristã.


APRESENTAÇÃO DO LIVRO:

RAMOS, Marivan S. “Por trás das Escrituras: uma introdução à exegese judaica e cristã”. São Paulo, 2016.
Contato com o autor: marivanramos26@gmail.com
 

Marivan Soares Ramos[1]

          Que a Bíblia é a Palavra de Deus, nós cristãos não temos dúvidas. Porém, o que muitas pessoas
 não sabem é que a Bíblia não caiu pronta do céu. Ela surgiu da experiência do povo com seu 
Deus no concreto da vida. Surgiu como fruto da inspiração divina, mas também como esforço 
humano. Quem escreveu foram homens e mulheres simples como eu e você. Ainda que eles não 
tivessem a plena consciência de estar falando ou escrevendo sob a inspiração de Deus, o faziam
 porque queriam transmitir essa experiência. E, neste sentido, nos deixaram um grande legado,
 patrimônio da humanidade e tudo isso fruto das suas experiências com Deus.
          A Bíblia nasceu, portanto, da preocupação de não esquecer o passado, criando assim uma
 identidade em torno da unidade. As palavras faladas (tradição oral) ou escritas (tradição escrita)
 de todos estes homens e mulheres contribuíram para formar e organizar o povo de Deus. Fizeram
 questão de distinguir as palavras e gestos de tantos outros que em nada contribuíram para a
 formação do povo, nem para a animação da fé e nem para a prática da justiça. Por isso mesmo 
a Bíblia, até sua constituição final, atravessou por um longo processo histórico.
          Diante de tudo o que vimos até agora pode destacar que se, por um lado, a Bíblia é a 
comunicação do chamado de Deus para com a humanidade (Revelação), ou como diz o Catecismo 
da Igreja Católica: “Deus comunica-se gradualmente ao homem, prepara-o por etapas a 
acolher a Revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na missão
 do Verbo encarnado, Jesus Cristo” (nº 53), por outro lado, destaca-se a resposta do povo fiel ao
 chamado de Deus em sua vida. Neste sentido, o povo sente-se impelido a transmitir a todas as
 pessoas essa revelação. Pois, Deus constituiu esse povo, como “luz para as nações” (Is 49,6) e assim
 como aquele povo nós também somos chamados para sermos luz para os povos (cf. Mt 5,14) e
 viver a fidelidade ao Senhor.
          Logo, a Bíblia não é, pois, um livro que se lê como qualquer outro. Para se entender essa
 Palavra, é preciso ler/interpretar com o mesmo espírito com a qual ela foi escrita. Pois, 
acolhemos a revelação de Deus com fé e respeito, como aquele que busca forças para continuar
 sua caminhada. Ouçamos o que a Igreja nos ensina sobre esse acolhimento: “a fé é a resposta do
 homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz superabundante ao
 homem em busca do sentido último da sua vida” (CIC, 26). Por isso temos fé no Deus vivo 
presente e atuante na minha, na sua, na nossa história.
          O propósito do livro é de introduzir o (a) estudante, bem como a todos aqueles (as) que se
 deixam enamorar pela Palavra de Deus, à ciência exegética, ou seja, a alguns métodos, da tradição
 rabínica e da tradição cristã, que nos ajudam a melhor interpretar e, assim, 
possibilitando o aprofundamento no conhecimento dos sentidos das Sagradas Escrituras. Claro está
 que o livro não pretende esgotar o assunto, pois o universo da exegese é imenso. Portanto, o
 desejo é demonstrar de que maneira pode-se encontrar Por trás das Escrituras: uma introdução à 
exegese judaica e cristã um maravilhoso e sempre florido “jardim” a nossa espera. Pois se um
 dia a humanidade perdeu esse “jardim” devido ao seu pecado, hoje Deus, por meio de
Jesus Cristo o Salvador, renova seu convite para o adentramos e nos deliciarmos com seus
 incontáveis e variados frutos de sua redenção. Neste sentido, o objetivo ao interpretar um texto 
bíblico deve ser o de buscar sentidos para o mesmo e, sendo assim, chamar a atenção das pessoas
 que nos escutam para alguns pontos mais específicos em vista da interpretação e da atualização do 
texto. Sendo assim, concluímos que o texto nos fala hoje!
          A compreensão, desse livro é bem simples, começa-se por uma breve explicação sobre a 
palavra Torah e de alguns dos possíveis sentidos que essa palavra emana em sua língua original
 e nas línguas que a traduziram e, dessa maneira, quais foram alguns dos métodos 
interpretativos empregados, pelos sábios de Israel, para uma boa compreensão da Palavra de Deus
 que assume a centralidade para a vida do povo de Deus (capítulo I). Na sequencia, objeta-se
 apresentar algumas regras (middot) adotadas, por alguns mestres em Israel, a fim de buscar sentidos
 para os textos bíblicos, pois a Palavra de Deus apresenta diversas possibilidades para a busca de
 sentidos e dessa maneira apresentar uma boa interpretação dos mesmos (capítulo II). Esses
 sentidos possíveis na interpretação do texto bíblico serão destacados através de uma palavra 
contraída utilizada entre os sábios de Israel, ‘PARDES’, pois a partir dessa palavra é possível, 
segundo a tradição rabínica, encontrar os mais variados sentidos, que de alguma forma encontram-se
 nas entre linhas, da Palavra de Deus (capítulo III). Esses métodos de interpretação rabínica
influenciarão as escolas de interpretação bíblica cristã de Alexandria e de Antioquia, duas
 importantes escolas que marcaram com seus métodos, sobre a busca de sentidos na Palavra de Deus,
 a vida e a história da Igreja (capítulo IV). Por fim, destaca-se, segundo o ensinamento da 
Pontifícia Comissão Bíblica, a busca pelos sentidos literal e espiritual do texto bíblico, com os
 devidos critérios para suas interpretações e quais os tipos de críticas que hoje dispõe a ciência bíblica
 e os mais diversos manuscritos dos textos bíblicos que até hoje se tem conhecimento, onde se 
encontram e quais os tipos (capítulo V).
          Acreditamos que o estudo da Bíblia não deve ser feito com o mero desejo de adquirir
 conhecimento intelectual, para com isso nos tornarmos arrogantes, muito menos com o 
propósito de enfrentamento com os nossos irmãos protestantes, para com isso sermos intolerantes.
 Pois essas atitudes não nos traria o que, de fato, é o desejo de Deus para a nossa vida, isto é,
 nossa conversão. O estudo da Palavra de Deus ao nos “atravessar” nos inspirará a bons propósitos
 e com isso o desejo de nos tornarmos pessoas melhores.
            Dessa forma, o sublime objetivo do qual nos faz buscar na Palavra de Deus, como nosso
 alimento diário e necessário, deve ser o mesmo que alimenta a vida do povo de Israel e da Igreja ao
 longo dos séculos, isto é, viver essa Palavra que liberta. Como a própria Palavra nos ensina:
 “Eu vim para que todos tenham vida em abundância” (Jo 10,10).







[1] Mestre em Teologia com concentração nos estudos exegéticos pela PUC – SP.
Atualmente é coordenador do Centro Cristão de Estudos Judaicos
(CCEJ – sioncentrodeestudos.org). Leciona cursos Livre de Teologia, Ensino Religioso e Bíblia
na Arquidiocese de São Paulo e na Diocese de Santo André.

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