POR TRÁS DAS ESCRITURAS: uma introdução à exegese judaica e cristã.
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Que a Bíblia é a Palavra de Deus, nós
cristãos não temos dúvidas. Porém, o que muitas pessoas
não sabem é que a
Bíblia não caiu pronta do céu. Ela surgiu da experiência do povo com seu
Deus
no concreto da vida. Surgiu como fruto da inspiração divina, mas também como
esforço
humano. Quem escreveu foram homens e mulheres simples como eu e você.
Ainda que eles não
tivessem a plena consciência de estar falando ou escrevendo
sob a inspiração de Deus, o faziam
porque queriam transmitir essa experiência.
E, neste sentido, nos deixaram um grande legado,
patrimônio da humanidade e
tudo isso fruto das suas experiências com Deus.
A Bíblia nasceu, portanto, da
preocupação de não esquecer o passado, criando assim uma
identidade em torno da
unidade. As palavras faladas (tradição oral) ou escritas (tradição escrita)
de
todos estes homens e mulheres contribuíram para formar e organizar o povo de
Deus. Fizeram
questão de distinguir as palavras e gestos de tantos outros que
em nada contribuíram para a
formação do povo, nem para a animação da fé e nem
para a prática da justiça. Por isso mesmo
a Bíblia, até sua constituição final,
atravessou por um longo processo histórico.
Diante de tudo o que vimos até agora pode
destacar que se, por um lado, a Bíblia é a
comunicação do chamado de Deus para
com a humanidade (Revelação), ou como diz o Catecismo
da Igreja Católica: “Deus
comunica-se gradualmente ao homem, prepara-o por etapas a
acolher a Revelação
sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na missão
do
Verbo encarnado, Jesus Cristo” (nº 53), por outro lado, destaca-se a resposta
do povo fiel ao
chamado de Deus em sua vida. Neste sentido, o povo sente-se
impelido a transmitir a todas as
pessoas essa revelação. Pois, Deus constituiu esse
povo, como “luz para as nações” (Is 49,6) e assim
como aquele povo nós também
somos chamados para sermos luz para os povos (cf. Mt 5,14) e
viver a fidelidade
ao Senhor.
Logo, a Bíblia não é, pois, um livro
que se lê como qualquer outro. Para se entender essa
Palavra, é preciso ler/interpretar
com o mesmo espírito com a qual ela foi escrita. Pois,
acolhemos a revelação de
Deus com fé e respeito, como aquele que busca forças para continuar
sua
caminhada. Ouçamos o que a Igreja nos ensina sobre esse acolhimento: “a fé é a
resposta do
homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo
uma luz superabundante ao
homem em busca do sentido último da sua vida” (CIC,
26). Por isso temos fé no Deus vivo
presente e atuante na minha, na sua, na nossa
história.
O propósito do livro é de introduzir o
(a) estudante, bem como a todos aqueles (as) que se
deixam enamorar pela
Palavra de Deus, à ciência exegética, ou seja, a alguns métodos, da tradição
rabínica e da tradição cristã, que nos ajudam a melhor interpretar e, assim,
possibilitando o aprofundamento no conhecimento dos sentidos das Sagradas
Escrituras. Claro está
que o livro não pretende esgotar o assunto, pois o
universo da exegese é imenso. Portanto, o
desejo é demonstrar de que maneira
pode-se encontrar Por trás das
Escrituras: uma introdução à
exegese judaica e cristã um maravilhoso e
sempre florido “jardim” a nossa espera. Pois se um
dia a humanidade perdeu esse
“jardim” devido ao seu pecado, hoje Deus, por meio de
Jesus Cristo o Salvador,
renova seu convite para o adentramos e nos deliciarmos com seus
incontáveis e
variados frutos de sua redenção. Neste sentido, o objetivo ao interpretar um
texto
bíblico deve ser o de buscar sentidos para o mesmo e, sendo assim, chamar
a atenção das pessoas
que nos escutam para alguns pontos mais específicos em
vista da interpretação e da atualização do
texto. Sendo assim, concluímos que o
texto nos fala hoje!
A compreensão, desse livro é bem
simples, começa-se por uma breve explicação sobre a
palavra Torah e de alguns dos possíveis sentidos
que essa palavra emana em sua língua original
e nas línguas que a traduziram e,
dessa maneira, quais foram alguns dos métodos
interpretativos empregados, pelos
sábios de Israel, para uma boa compreensão da Palavra de Deus
que assume a
centralidade para a vida do povo de Deus (capítulo I). Na sequencia, objeta-se
apresentar algumas regras (middot)
adotadas, por alguns mestres em Israel, a fim de buscar sentidos
para os textos
bíblicos, pois a Palavra de Deus apresenta diversas possibilidades para a busca
de
sentidos e dessa maneira apresentar uma boa interpretação dos mesmos
(capítulo II). Esses
sentidos possíveis na interpretação do texto bíblico serão
destacados através de uma palavra
contraída utilizada entre os sábios de Israel,
‘PARDES’, pois a partir dessa palavra
é possível,
segundo a tradição rabínica, encontrar os mais variados sentidos,
que de alguma forma encontram-se
nas entre linhas, da Palavra de Deus (capítulo
III). Esses métodos de interpretação rabínica
influenciarão as escolas de
interpretação bíblica cristã de Alexandria e de Antioquia, duas
importantes
escolas que marcaram com seus métodos, sobre a busca de sentidos na Palavra de
Deus,
a vida e a história da Igreja (capítulo IV). Por fim, destaca-se, segundo
o ensinamento da
Pontifícia Comissão Bíblica, a busca pelos sentidos literal e
espiritual do texto bíblico, com os
devidos critérios para suas interpretações
e quais os tipos de críticas que hoje dispõe a ciência bíblica
e os mais
diversos manuscritos dos textos bíblicos que até hoje se tem conhecimento, onde
se
encontram e quais os tipos (capítulo V).
Acreditamos que o estudo da Bíblia não
deve ser feito com o mero desejo de adquirir
conhecimento intelectual, para com
isso nos tornarmos arrogantes, muito menos com o
propósito de enfrentamento com
os nossos irmãos protestantes, para com isso sermos intolerantes.
Pois essas
atitudes não nos traria o que, de fato, é o desejo de Deus para a nossa vida,
isto é,
nossa conversão. O estudo da Palavra de Deus ao nos “atravessar” nos
inspirará a bons propósitos
e com isso o desejo de nos tornarmos pessoas
melhores.
Dessa forma, o sublime objetivo do qual nos faz buscar na
Palavra de Deus, como nosso
alimento diário e necessário, deve ser o mesmo que
alimenta a vida do povo de Israel e da Igreja ao
longo dos séculos, isto é,
viver essa Palavra que liberta. Como a própria Palavra nos ensina:
“Eu vim para
que todos tenham vida em abundância” (Jo 10,10).
[1] Mestre em Teologia com
concentração nos estudos exegéticos pela PUC – SP.
Atualmente é coordenador do
Centro Cristão de Estudos Judaicos
(CCEJ – sioncentrodeestudos.org). Leciona
cursos Livre de Teologia, Ensino Religioso e Bíblia
na Arquidiocese de São
Paulo e na Diocese de Santo André.
Obrigado a todos.
ResponderExcluirQuero agradecer a todos que contribuíram para a realização desse projeto.
ResponderExcluirObrigado!