Tenho uma vizinha que é um modelo de alegria de viver. Às sete horas da manhã ela vai nadar na piscina do bairro, dedica o resto dia a assistir conferências, visitar bibliotecas, e suas noites são sempre ocupadas com teatros, concertos ou palestras. Essa mulher não para. Super-ativa. É uma jovem de 85 anos. Tendo sobrevivido ao morticínio, ela chegou a Israel após a II Guerra Mundial. Naquela época, Israel, ainda incipiente, fez de tudo para acolher os sobreviventes. Mas nem tudo foi um mar de rosas, conforme ela me contou. Muitas vezes ouviu comentários, até ofensivos, de incrédulos que não podiam se conformar que os judeus tenham sido levados às câmaras de morte, como simples rebanho, sem reagir.
Decorreram anos até que ela e outros, vencendo seus impedimentos mentais e tentando enterrar as tragédias nos fundos de suas consciências, resolveram abrir afinal a boca e contar o que aconteceu. O que já era mais do que sabido. Ela repetiu o que tantas vezes já ouvimos: como é possível explicar o quase inexplicável, isto é, o fato de o povo alemão, celebrado como altamente cultural e produtor de gênios científicos e músicos imortais, ter sido capaz de cometer a mais monstruosa destruição de seres humanos jamais ocorrida em toda a história da Humanidade?
A partir de um certo momento, a palavra Holocausto assumiu foros internacionais. Só que, na medida em que foram divulgados os crimes cometidos pelo nazi-fascismo, paralelamente começou a decorrer um fenômeno já batizado com a epígrafe “banalização do Holocausto”. Começou com os revisionistas, imbecilóides pseudointelectuais que, partindo de falsas premissas, tentaram – e ainda tentam – reverter os termos da História, não faltando basbaques que acreditam nas falsidades escritas e publicadas. Mas isso é o de menor importância. Quantas pessoas morreram na II Guerra Mundial? Na apreciação da Wikipedia, este número gira em torno de 72 milhões de pessoas.
Longe de mim a idéia de formular aqui uma contabilidade macabra, mas o faço “ad argumentandum tantum”, para reforçar o que estou comentando. A União Soviética foi a maior vítima, em termos humanos, tendo perdido na II Guerra Mundial 10,7 milhões de soldados e 11,4 milhões de civis. A China perdeu 3,8 milhões de soldados e 16,2 milhões de civis. As estatísticas detalhadas estão à disposição de quem quiser procurá-las. Aí, então, há quem pergunte: afinal de contas, o que são 6 milhões de judeus de mortos na guerra, ou “pouco mais” de 8% do total de vidas perdidas? E por que todo este exagero com o Holocausto? O conceito de Holocausto passou a ser utilizado em relação a muita coisa que nada tem a ver com o seu verdadeiro significado.
Matanças de milhões de pessoas, que ocorrem em certos países africanos, são divulgadas como holocausto. Também se definiu como holocausto a morte imensa das vítimas de Aids. Querem mais exemplos? Pois até li uma reportagem de que havia um holocausto de elefantes, também no continente africano, por obra de caçadores negociantes de marfim. O pior de tudo na banalização do Holocausto é que, durante as cerimônias solenes, em diferentes países, os discursos invocam, paralelamente à esta tragédia, a perseguição a todos os tipos de minorias, a escravidão dos negros que terminou somente no Século XIX, a perseguição aos homossexuais, a violências das ditaduras e as torturas policiais; sem falar, “data vênia”, dos pobres palestinos.
Colocando os pingos nos is: em que se diferencia a morte de 6 milhões de judeus de todas os demais? A resposta é trágica e incrivelmente simples. Soldados e civis morrem em guerras. Esses últimos, eternas vítimas desde o tempo dos bárbaros, de Gengis Kahn. Diríamos, entre muitas aspas, “morte natural em consequência de guerra”. O morticínio dos judeus na II Guerra Mundial foi um caso único na História.
Em decorrência de uma ideologia esquizofrênica, que diferenciava entre raças superiores e inferiores, reuniram-se pessoas – algumas de alto nível cultural e científico – e decidiram exterminar a “raça judaica”.
De que maneira? De uma forma científica, psicológica e altamente industrializada. Seres humanos, considerados como animais inferiores, foram mortos numa verdadeira linha de produção industrial. Entre eles – já esqueceram? –, um milhão e meio (1.500.000) de crianças judias.
A mente humana é incapaz de absorver toda a acima referida numerologia. E, naturalmente, quem lê qualquer relato a respeito, pessoas honestas e de boa fé, sempre dirão: “mas é inacreditável!”. Por conseguinte, e em virtude de tudo o que foi acima comentado, acho que nós judeus deveríamos, unanimemente, adotar uma nova postura com relação à palavra Holocausto, colocando-a à margem como um substantivo usado indevidamente e, em seu lugar, utilizarmos a palavra em hebraico “Shoá”.
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