O TEMPO LITÚRGICO DA QUARESMA
I. INTRODUÇÃO
A palavra quaresma vem do latim quadragesima (período de 40 dias), são os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até a Quinta-feira Santa, antes da Missa da Ceia do Senhor. O tempo litúrgico da Quaresma tem como sentido a grande preparação para a solene festa da Páscoa, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
O tempo litúrgico da Quaresma tem sua origem nos primeiros séculos. Já nos séculos II e III era costume nas comunidades fazer alguns dias de jejum em preparação à Páscoa. Já nos séculos III-V esse era um período de preparação dos catecúmenos (catequizando) para receber o sacramento do Batismo, a ser celebrado na Vigília pascal, e já contará um período de 40 dias.
II. DESENVOLVIMENTO
1. O número 40 e seu significado bíblico
O número 40 é simbólico e pode ter seu significado, como por exemplo, pelo tempo necessário para a realização de uma missão ou ainda o tempo de uma geração uma vez que no período bíblico a expectativa de vida era de aproximadamente 40 anos, além disso tudo o número 40 nos recorda muitos acontecimentos que marcaram a história da salvação, como por exemplo:
- Dilúvio (cf. Gn 7, 4) nos diz que Deus fez chover sobre a terra durante 40 dias e 40 noites;
- Israel (cf. Ex 16, 35) que os filhos de Israel comeram durante 40 anos o maná; (cf. Nm 32, 13) diz que Israel passou 40 anos no deserto.
- Moisés (cf. Dt 9,9) permaneceu durante 40 dias e 40 noites na montanha;
- Elias (cf. 1Rs 19,8) caminhou, em direção da montanha de Deus, durante 40 dias e 40 noites;
- Jonas (cf. Jn 3, 4) pregava a destruição de Nínive em 40 dias;
- Jesus (cf. Mt 4,2) esteve no deserto jejuando durante 40 dias e 40 noites.
2. As cinzas
Elas representam a consciência do nada da criatura diante do Criador, como já bem falou Abraão: “Sou bem atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza” (Gn 18,27). Isto nos leva a assumir uma atitude de maior humildade e arrependimento por certas atitudes orgulhosas
3. O Tema do Tempo Litúrgico da Quaresma
O livro do profeta Joel 2, 12-13 (primeira leitura da quarta-feira de cinzas), reflete bem qual deve ser nosso propósito nesse tempo: a Conversão, o Arrependimento, a volta para Deus.
O tempo da Quaresma é uma caminhada rumo ao centro de nossa fé: a Páscoa, portanto, a Igreja nos ajuda nessa caminhada do retorno para Deus a partir de um profundo desejo de voltar a se orientar por sua Palavra em nossa vida. Dizemos, em nossa língua arrependimento, esse desejo de retorno a Deus (cf. Lc 15, 11-32), na língua hebraica (escrita Sagrada dos livros do Primeiro Testamento), se diz TESHUVÁ, que significa um contínuo e incessante esforço, de nossa parte, para retornar as orientações divinas, ou ainda na escrita grega (escrita dos livros do Novo Testamento) se diz METANÓIA, e isto significa mudança de atitudes ou de comportamento, na prática isto é o desejo que temos para uma reorientação de nossa vida para vivermos o projeto de Jesus, expresso em seu evangelho, com todas as implicações que Ele causará em nossa vida, logo a nossa fé nos trás implicações práticas. Onde devemos bem conjugar os verbos crer e fazer.
4. Práticas Quaresmais
São muitos os símbolos e os gestos que acompanham esse tempo litúrgico, estes símbolos nos ajudam a vivenciar melhor o espírito quaresmal, são eles:
a. Jejum e Abstinência: deve nos orientar a dar mais atenção a Palavra de Deus, o jejum provoca fome, essa fome deve simbolizar para nós a fome da Palavra de Deus. O Jejum ainda busca criar em nós um equilíbrio saudável, onde sejamos mais fortes que nossos impulsos, nossos desejos.
b. Oração: nesse período intensificamos nossa vida de oração, na forma de súplicas, intercessão, perdão, agradecimentos, firmar propósitos de mais intensa comunhão. É um período muito rico para as celebrações penitenciais.
c. Esmola: essa palavra muitas vezes não é bem interpretada, o que a Igreja nos ensina é que muito mais do que dar alguns centavos para garotos de rua, é de fato promover a dignidade humana, é buscar melhorar nossas relações orientada pela Palavra de Deus que tem, nos mais necessitados nossa preferência.
III. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É uma graça podermos vivenciar esse tempo litúrgico (kairós) da Quaresma com o sincero desejo de voltar nosso coração a Deus e com isso mudar nossas atitudes e assim fazermos a caminhada de 40 dias (o tempo necessário para nossa conversão) juntos com todo o Povo de Deus ao encontro do Senhor Jesus Cristo Morto e Ressuscitado, como o próprio Senhor nos convida: “Arrependei-vos e credes no evangelho” (Mc 1,16) dessa forma, viveremos mais intensamente a comunhão com o Senhor e com nossos irmãos. Daí então podemos dizer como disse São Paulo: “Purificai-vos do velho fermento para serdes nova massa, já que sois sem fermento. Pois nossa Páscoa, Cristo, foi imolado. Celebremos, portanto, a festa, não com velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade”(I Cor 5, 7-8).
IV. BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
BÍBLIA DE JERUSALÉM
BERTOLINI. J. POR QUE CREIO
GUIA LITÚRGICO-PASTORAL. CNBB
LITURGIA EM MUTIRÃO. CNBB
Escrito por Marivan Soares Ramos
Legal seu texto.
ResponderExcluirParabéns.
Grato, Jerry.
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