A BÍBLIA
Bíblia é uma palavra grega que quer dizer, livros, por isso a Bíblia é uma coleção de livros (biblioteca). Ela é composta por duas partes: a) 1O. Testamento; b) 2O. Testamento.
O 1O. Testamento é composto por 46 livros e o 2O. Testamento por 27 Livros. A Bíblia Sagrada, portanto, é composta de um total de 73 livros. As edições protestantes tem 7 livros a menos todos eles do 1º. Testamento, pois os luteranos, após a reforma, séc. XVI, decidiram admitir o canon hebraico, já a Igreja católica assume o Canon da tradução da Septuaginta (ver abaixo). Os livros são: Tobias, Judite, os dois livros de Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e alguns suplementos do Livro de Ester e Daniel.
Segue abaixo a tabela contendo todos os Livros da Bíblia, Abreviaturas e denominações: LIVROS DO PRIMEIRO TESTAMENTO | LIVROS DO SEGUNDO TESTAMENTO | |||
Livros | Abreviaturas | | Livros | Abreviaturas |
Livros do Pentateuco | | | | |
Gênesis | Gên | | Evangelho Segundo São Mateus | Mt |
Êxodo | Êx | | Evangelho Segundo São Marcos | Mc |
Levítico | Lev | | Evangelho Segundo São Lucas | Lc |
Numeros | Nm | | Evangelho Segundo São João | Jo |
Deuteronômio | Dt | | Atos dos Apóstolos | At |
Os 16 Livros Históricos | | | Epístola aos Romanos | Rm |
Livro de Josué | Jos | | 1ª. Epístola aos Coríntios | I Cor |
Livro dos Juízes | Jz | | 2ª. Epístola aos Coríntios | II Cor |
Livro de Rute | Rt | | Epístola aos Gálatas | Gál |
I Livro de Samuel (I dos Reis) | I Sam (I Re) | | Epístola aos Efésios | Ef |
II Livro de Samuel (II dos Reis) | II Sam (II Re) | | Epístola aos Filipenses | Fl |
I Livro dos Reis (III dos Reis) | I Re (III Re) | | Epístola aos Colossenses | Col |
II Livro dos Reis (IV dos Reis) | II Re (IV Re) | | 1ª. Epístola aos Tessalonicenses | I Tes |
I Livro das Crônicas (I dos Paralipômenos) | I Crôn (I Par) | | 2ª. Epístola Aos Tessalonicenses | II Tes |
II Livro das Crônicas (II dos Paralipômenos) | II Crôn (II Par) | | 1ª. Epístola a Timóteo | I Tim |
Livro de Esdras (I de Esdras) | Esd (I Esd) | | 2ª. Epístola a Timóteo | II Tim |
Livro de Neemias (II de Esdras) | Ne (II Esd) | | Epístola a Tito | Tt |
Livro de Tobias | Tob | | Epístola a Filêmon | Flm |
Livro de Judite | Jdt | | Epístola aos Hebreus | Heb |
Livro de Ester | Est | | Epístola de São Tiago | Tg |
I Livro dos Macabeus | I Mac | | 1ª. Epístola de São Pedro | I Pe |
II Livro dos Macabeus | II Mac | | 2ª. Epístola de São Pedro | II Pe |
Os 7 Livros Sapienciais | | | 1ª. Epístola de São João | I Jo |
Livro de Jó | Jó | | 2ª. Epístola de São João | II Jo |
Livro dos Salmos | Sal | | 3ª. Epístola de São João | III Jo |
Livro dos Provérbios | Pr | | Epístola de São Judas | Jud |
Livro do Eclesiastes (Coélet) | Ecle (Co) | | Apocalipse | Apc |
Cântico dos Cânticos | Cânt | | | |
Livro da Sabedoria | Sab | | | |
Livro do Eclesiástico (Sirac) | Eclo (Si) | | | |
Os 18 Livros Proféticos | | | | |
Isaías | Is | | | |
Jeremias | Jer | | | |
Lamentações | Lam | | | |
Baruc | Bar | | | |
Ezequiel | Ez | | | |
Daniel | Dan | | | |
Oséias | Os | | | |
Joel | Jl | | | |
Amós | Am | | | |
Abdias | Abd | | | |
Jonas | Jon | | | |
Miquéias | Miq | | | |
Naum | Na | | | |
Habacuc | Hab | | | |
Sofonias | Sof | | | |
Ageu | Ag | | | |
Zacarias | Zac | | | |
Malaquias | Mal | | | |
Diferença entre a Bíblia Católica e a Protestante:
A Bíblia é dividida em dois blocos: Primeiro Testamento e Segundo Testamento. No Primeiro estão os livros escritos antes de Jesus Cristo (a.C.), e narram à caminhada do povo de Israel junto com seu Deus. No Segundo Testamento estão os livros escritos depois de Cristo (d.C.), e narram à caminhada de Jesus Cristo e das primeiras comunidades cristãs. A diferença entre “Bíblia Católica” e “Bíblia Evangélica” está no Primeiro Testamento, pelo fato dos evangélicos adotarem a “Bíblia Hebraica”, que só contém os livros escritos em hebraico. Já a “Bíblia Católica” possui sete livros a mais. São livros que foram escritos em grego ou cujo original hebraico se perdeu e que só se encontraram na tradução grega da Bíblia, feita pelos judeus a partir do século III a.C. Os sete livros que somente se encontram na Bíblia Católica são: Tobias, Judite, os dois livros dos Macabeus, Baruc, Sabedoria e Eclesiástico. Ainda existem passagens que originalmente foram escritos em grego e que se encontram nos livros de Ester e Daniel, que estão na Bíblia Católica e faltam na Bíblia Evangélica. Em Daniel são os capítulos 13 e 14, os cânticos de Azarias e dos três jovens na fornalha, acrescentado ao capítulo 3. Na Septuagita, a tradução grega da Bíblia, também chamada de “Setenta”, o acréscimo grego estão na introdução, após o capítulo 3, versículo 13; capitulo 4, versículo 16; capítulo 8, versículo 12; capítulo10, versículo 3. A diferença entre “Bíblia Católica” e “Bíblia Evangélica” teve sua origem na Reforma Protestante no inicio do século XVI, tempo de grandes descobertas, de novas nações, redescobrimento de obras de arte e da literatura da Grécia, de Roma. Havia a idéia de voltar às origens, este clima influenciou Lutero a voltar ao texto hebraico do Primeiro Testamento, que era o mais antigo texto bíblico.
Algumas diferenças entre o Primeiro e o Segundo Testamento
O Primeiro Testamento levou aproximadamente mil anos para ser escrito, o Segundo aproximadamente 100 anos. O processo inicial é transmitido de boca em boca por tradição oral, espalha-se por vários lugares, é celebrado e só depois é fixado por escrito. Este processo foi muito longo, por exemplo, a história de Abraão foi escrita vários séculos depois de sua morte e após passar por várias etapas de redação em épocas diferentes. Abraão deve ter vivido por volta de 1800 anos antes de Cristo, e o livro do Gênesis, onde está narrada a sua memória, teve o inicio da sua redação por volta de 950 a.C., e sua redação final foi por volta de 400 a.C. Outra diferença entre os dois é que no Primeiro podem ser considerados “livros”, embora alguns sejam bem curtos, com Abdias e Ageu. No Segundo Testamento esses escritos, geralmente, tem caráter de cartas, quase um bilhete, como a Carta a Filemon, a de Judas, a Segunda e a Terceira Carta de João. Entre os 27 livros, 21 são cartas. Carta aos Romanos, aos Efésios, aos Hebreus, Carta de Tiago e a Primeira Carta de João, tem um sentido doutrinário mais extenso, não parecem cartas, são longas e com sermões. A que tem menos estilo de carta é a endereçada aos Hebreus. O Segundo Testamento foi todo escrito em Grego, e a maioria do Primeiro Testamento foi escrito em hebraico e alguma parte em aramaico. Quase todo o Primeiro Testamento foi escrito em Israel, só o livro de Ezequiel, o 2º Isaias (capitulo 40 aos 55), partes do Pentateuco, alguns Salmos, foram escritos na Babilônia. Já os livros do Segundo Testamento foram escritos em vários lugares tais como: Síria, Grécia, Ásia Menor, Roma. È comum achar difícil o Primeiro Testamento, porém sem ele não podemos compreender bem o Segundo Testamento que deve seu desenvolvimento dentro da cultura e religiosidade judaica como pano de fundo. O Segundo é uma, poderíamos dizer, reinterpretação do Primeiro à luz do evento Jesus Cristo.
Livros Canônicos:
“Cânon”: é uma palavra grega que significa “cana”, instrumento usado para medir em épocas antigas. Cânon, portanto, significa “medida”, “norma”, “regra”, “lista”. Para a Igreja passou a designar as normas de fé e as regras de vida. O “cânon bíblico” é a relação dos livros reconhecidos pela Igreja como inspirados, proposto pelo ministério eclesiástico aos fiéis como Palavra de Deus. Livros canônicos são, portanto aqueles considerados a “medida certa” da Palavra de Deus e forma o conjunto da Sagrada Escritura. Por volta do ano 400 São Jerônimo coordenou a tradução da Bíblia do grego para o latim, e chamou os sete livros que não constam na Bíblia Evangélica de “deuterocanônicos”. Deutero em grego significa “segundo”, e deuterocanônico vem significar “canônico de segunda lista”, em 1546 o Concílio de Trento definiu que os livros deuterocanônicos deveriam ser aceitos pelos católicos “com igual devoção e reverência”. Os evangélicos chamam os livros deuterocanônicos de apócrifos, palavra grega que significa “oculto”, “guardado”. Os livros apócrifos reconhecidos tanto pelos evangélicos como pelos católicos não são usados para leitura pública, somente para leitura doméstica.
Apócrifos judaicos:
a) Antes de Cristo: 3 e 4 Esdras, 3 e 4 Macabeus, Livro dos Jubileus, Livro de Adão e Eva, Carta de Aristéia, Martírio de Isaias, Livro de Henoc, Testamento dos 12 Patriarcas, Oráculos Sibilinos, Salmos de Salomão.
b)Depois de Cristo: Assunção de Moisés, Livros de Baruc, Testamento de Jó, Testamento de Abraão, Apocalipse de Abraão, Apocalipse de Moisés.
Apócrifos cristãos:
Evangelhos: de Tiago, de Tomé, Evangelho Árabe da Infância, Historia de José, Evangelho de Pedro, de Nicodemos, de Bartolomeu, Livro de João Batista, a Assunção da Virgem Maria.
Atos: de João, de Paulo e Tecla, de Pedro, de André, de Tomé, de Felipe.
Epístolas: de Abgar, Carta aos Laodicenses, Epístola dos Apóstolos.
Apocalipses: de Pedro, de Paulo, de Tomé, de Adão, Ascensão de Isaias.
O que é a Bíblia?
Para ter uma ajuda segura na vontade de ser fiel a Deus e aos seus costumes (cultura), o povo de Israel ao longo da sua história vai caminhando com Deus (teologia), num primeiro momento essa experiência de Deus está “gravada” na memória do povo (tradição oral), num segundo momento o povo diante das perseguições que sofrem teme perder essas memórias, que são transmitidas de forma oral, e passam agora a registrá-las (tradição escrita), dessa forma ao longo da história o povo vai selecionando alguns escritos dos quais os ajudam em sua caminhada, e expressa melhor sua fé, suas convicções, sua Lei, seu culto, seus cantos, enfim sua missão.
Lidos e relidos nas reuniões e nas celebrações da comunidade, esses livros vão ganhando autoridade. Iniciava-se assim o depósito da fé de um povo, seu patrimônio sagrado, isto porque esses Livros revelam a vontade de Deus (Revelação) junto ao seu povo. Daí surge à expressão Escritura Sagradas ou Santas Escrituras. Portanto, a Bíblia é de fato Palavra de Deus encarnada na história.
Bíblia Palavra de Deus na palavra humana.
A Bíblia é a Palavra de Deus, mas encarnada na palavra humana, é livro divino-humano.. Como as pessoas que conviveram com Jesus tiveram o contato com o Filho de Deus através do Filho do Homem, hoje nós também podemos ter contato com a Palavra de Deus através de palavras humanas registradas na Bíblia.
Antes de serem escritos os livros da Bíblia foram necessários muitos anos de oralidade. A Bíblia foi contada e cantada no meio das famílias e nas celebrações do povo.
No começo da história do povo, não se tinha a preocupação de escrever nada, mesmo porque essa era uma arte muito rara naquele tempo, o importante era contar as histórias vividas por seus antepassados. Portanto, a memória dos fatos eram contados em “verso e prosas”, isto é, era transmitido oralmente de pais para filhos.
Seria hoje como decorar uma poesia ou uma letra de música, para se fazer isso não precisa ser muito culto ou letrado basta sentir o momento, era assim que aquele povo simples transmitia suas Leis, suas profecias, seus provérbios, sua cultura, etc.
Podemos dizer que a Bíblia é fruto da vontade do povo de ser fiel a Deus e as suas instruções (Toráh). Por isso dizemos que a Bíblia não pode ser lida como um livro comum, isto é, para se ler a Bíblia é preciso ter fé, pois a vocação da Bíblia é nos aproximar de Deus e do próximo ao máximo.
A Bíblia é resultado de um grande mutirão entre Deus e seu povo, com a ação do Espírito Santo e a vontade do povo de ser fiel a ele. A ação do espírito de Deus é coma chuva que caí do alto e na terra ajuda a semente a germinar, transformar em planta, florescer e dar frutos. A planta é, portanto fruto do céu, isto é da chuva, é fruto da terra. Como a planta, a Bíblia é fruto da ação de Deus e do esforço das pessoas, é a Palavra de Deus semeada na palavra do povo de Deus. Portanto é necessário discernimento, sabedoria, para distinguir a Palavra de Deus da palavra humana, daí a importância em estudar a Sagrada Escritura, é preciso também tudo isso para interpretar a presença de Deus no nosso dia-a-dia. Deus não se revela de forma mágica, fora da história, sua revelação acontece na experiência de vida, no cotidiano. Não podemos ler a Bíblia com um livro de ciências ou simplesmente como um livro de história, ela deve ser lida através da história do povo hebreu refletindo na história da humanidade. Nem tudo o que está narrado na Bíblia aconteceu do jeito que está escrito mais do que narrar um fato ela interpreta a história, a vida, então quando interpretamos um texto bíblico estamos interpretando uma interpretação. Na Bíblia uma mesma história tem diferentes interpretações. No Primeiro Testamento temos sucessivas releituras da história, cada uma delas tem o objetivo de atualizar a Palavra de Deus, o contexto é outro. Até mesmo o Segundo Testamento é uma releitura do Primeiro Testamento a partir da ressurreição de Jesus. A Bíblia é, portanto uma seqüência de sínteses atualizadas do passado adaptadas ao presente em vista de um futuro. A Bíblia é um livro que foi nascendo aos poucos através de experiências, de um povo, vividas em diferentes lugares, que foram contadas, recontadas durante muito tempo, nos palácio, nos casebres, até serem agrupadas pela tradição, então é nesse momento que a memória torna-se texto.
Onde foi escrito a Bíblia ?
A Bíblia foi escrita em diferentes lugares, a maior parte dela foi escrita na Palestina, terra onde Jesus andou e onde nasceu a Igreja, mas temos escritos na Babilônia, Egito (1O. Testamento), Síria, Grécia, Ásia Menor, Itália (2O. Testamento).
Se a Bíblia é escrita em diversos contextos sociais diferentes, não podemos nos esquecer que ela sofrerá influencia de todos esses meios. Pois, Deus usa os homens para escrever essa relação entre Deus e o povo, e esses escritos trazem uma forte marca sócio-cultural da sua época, daí a maior dificuldade nossa de compreender a mensagem bíblica, lemos um texto condicionado na sua época e queremos adapta-lo a uma realidade totalmente estranha, é preciso contextualizar o texto, e subtrairmos a sua mensagem, essa sim é presente, ainda que falada, escrita no passado, pois se trata da Palavra de Deus.
Quem escreveu a Bíblia?
Foram homens e mulheres como nós hoje. Eram pessoas que faziam parte de uma comunidade de fé. Fé em um Deus presente onde a aliança com esse Deus lembrava ao povo o senso de justiça e a prática da caridade, isto era o eixo da vida do povo. Esses homens e essas mulheres muitos deles anônimos, ao escrever os textos sacros representavam a fé da sua comunidade. Portanto, não foi uma única pessoa que escreveu a Bíblia, mas ela foi escrita em mutirão. Diversas pessoas contribuíram com sua experiência de caminhada de fé: homens, mulheres, jovens e idosos, pais e mães, agricultores, pescadores e operários de várias profissões, gente sábia e gente simples, sacerdotes e profetas, reis e pastores. Muita gente colaborou. O povo todo se interessou. Assim a Bíblia foi surgindo a partir do esforço comunitário de toda essa gente, impulsionada pela presença de Deus em seu meio.
Por tudo isso é que acreditamos que a Bíblia é obra de Deus, é o livro de Deus, porque nela Deus se Revela e manifesta a sua vontade a toda a humanidade.
Em que língua foi escrita a Bíblia?
A Bíblia foi escrita em três línguas diferentes: Hebraico, Aramaico e Grego.
O Hebraico é a língua Sagrada à maior parte do 1O. Testamento foi escrito em Hebraico. Era a língua que os Israelitas falavam antes do cativeiro da Babilônia (586-538 a.C.)
O Aramaico era a língua familiar dos Israelitas, sua língua de origem, a língua dos Patriarcas, essa língua foi falada até a entrada na Terra prometida. Depois o
Aramaico tornou-se a língua oficial do Império Persa (550 a.C.), após o cativeiro da Babilônia os Israelitas passaram a falar o aramaico novamente. Só uma parte muito pequena do 1O. Testamento foi escrito em aramaico.
Aramaico tornou-se a língua oficial do Império Persa (550 a.C.), após o cativeiro da Babilônia os Israelitas passaram a falar o aramaico novamente. Só uma parte muito pequena do 1O. Testamento foi escrito em aramaico.
No séc. III a.C. com a conquista de Alexandre Magno (Grego) os territórios dominados passam a adotar a língua grega como língua oficial sobretudo para o comércio.
Assim, no tempo de Jesus, o povo de Israel falava aramaico em casa, no seu cotidiano, o hebraico na leitura da Bíblia na sinagoga e o grego no comércio e na política.
Dois livros do 1O. Testamento (Sabedoria e II Macabeus), e todos os livros do 2O. Testamento foram escritos em grego.
Quando foi escrita a Bíblia?
A Bíblia começou a ser escrita por volta do ano 1250 a.C., e só foi concluída por volta do ano 100 dC. . É sempre importante ter em mente que para o homem bíblico, a tradição oral precede a tradição escrita, com isso percebemos que alguns fatos só foram escritos muitos e muitos anos depois do ocorrido, por exemplo, o fato da morte e ressurreição de Jesus que aconteceu, historicamente, por volta do ano 30, só foi escrito a partir do ano 70.
Quando os livros da Bíblia foram escritos, não eram divididos em capítulos e versículos como hoje temos, isso só ocorreu por volta do ano 1214 pelo inglês Estevan Langton, arcebisbo de Cantuária e professor da Universidade de Paris que teve a brilhante idéia de dividir todos os livros bíblicos em capítulos numerados e em 1527 cada capítulo foi dividido em versículos, pelo dominicano Pagnini. O Segundo Testamento foi feito pelo tipógrafo francês Roberto Etienne em 1551, foi ele quem imprimiu a primeira Bíblia com essas divisões, a “Vulgata” em latim em 1555.
A Bíblia foi impressa pela primeira vez, em latim, no ano de 1450.
Autores dos livros da Bíblia:
Os cinco primeiros livros da Bíblia são atribuídos a Moisés pela tradição judaica, mas nenhum destes livros trás informação sobre quem seria o autor ou autores. Moisés foi o grande personagem que liderou a fuga do Egito e a caminhada no deserto, e segundo a tradição recebeu as leis (Torót) no monte Sinai. A tradição atribui a Moisés tudo o que estivesse relacionado com a lei, atribuiu então a Moisés a autoria de todos os escritos a respeito da lei. Também quase a metade dos Salmos é atribuída a David, que tinha fama de cantor e poeta, foi também o grande promotor do culto em Jerusalém. Era, portanto uma figura ligada à oração, e a tradição atribui a ele a autoria da maioria dos Salmos, como forma de homenageá-lo.
Por que a Bíblia foi escrita
Nós seres humanos não esquecemos o nosso passado, no sentimos orgulhosos pelo que já passamos em nossa vida, o povo de Deus também olhando para o seu passado sentia o que Deus tinha feito por eles, e isto era motivo para animá-los em sua caminhada. São três coisas que animam o povo a caminhar: a) o passado, b) anunciar o futuro e c) mostrar o presente.
a) contar o passado:
PENTATEUCO: É conhecido também como TORÁ, que pode significar Lei. São os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, que conta a origem da vida e a história do povo no Egito; Êxodo, narra à saída do Egito; Levítico conta a história de um povo com suas instruções para o culto; Números é a narração da caminhada para a Terra Prometida; Deuteronômio, conta o projeto de uma nova sociedade.
Livros Históricos: São 12: Josué, Rute, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas,, Esdras, Neemias, e parte do livro de Ester.
Livros Deuterocanônicos: Livros que fazem parte da Bíblia católica são eles: Tobias, Judite, parte do livro de Ester e 1 e 2 Macabeus.
b) anunciar o futuro: O futuro para nós é visualizado pela esperança, pela força e pela coragem de cada um de nós, o povo de Deus também se animava a caminhar através das palavras dos profetas que lhes mostravam as promessas de Deus como projeto para o futuro.
Livros proféticos: São os livros que falam do futuro do povo de Israel: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Hababuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, são 17 livros.
Livros Deuterocanônicos: Baruc e parte do livro de Daniel.
c) mostrar o presente: Na nossa vida sentimos que Deus caminha ao nosso lado, isto nos torna feliz, assim também aconteceu com o povo de Israel quando começaram a caminhar com Deus, por isso atribuem a Deus o nome de Emanuel, Deus consco. Não viam apenas o passado e nem só o futuro, mas o presente buscando soluções para seus problemas, isto é encontrado nos seguintes livros:
Livros sapienciais: Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos. São 5 livros.
Livros Deuterocanônicos: Sabedoria e Eclesiástico.
Leitura fundamentalista da Bíblia
Os fundamentalistas pregam que a doutrina tradicional deve ser preservada a todo custo diante de novas formas de interpretar os textos bíblicos, para eles a Bíblia não pode errar, porque nela tudo foi inspirado por Deus e nada pode ser mudado, recusam todo conhecimento feito pelos estudiosos da Bíblia. A verdade está na Bíblia do jeito que elas estão escritas, porque Deus quis assim. O fundamentalismo não se preocupa com as transformações da sociedade, estão indiferentes em relação ao mundo, que estão no mundo, mas não pertencem a ele, não toleram os que não pensam como eles, toda a verdade está na Bíblia, e deve ser aceitas como estão escritas, preocupam-se com o texto e não com o espírito dele. Para eles a Bíblia não é o fruto da história de um povo, mas uma verdade que não se pode mudar, não leva em consideração o contexto social, histórico, social, cultural, religioso, do tempo em que os textos foram escritos. O fundamentalismo nasceu no meio protestante e chegou ao Brasil em 1921, mas também entre os católicos há grupos que seguem um tipo de leitura da Bíblia que pode ser chamado de fundamentalista.
Traduções da Bíblia:
A tradução é o único meio para fazer com que uma coisa escrita em uma língua possa ser lida e entendida por quem não fala aquela língua, neste sentido a Bíblia também teve de ser traduzida para outras línguas. Todos os livros da Bíblia são “manuscritos”, isto é, escritos à mão, utilizando para isto o “papiro”, espécie de juncos que crescia às margens do rio Nilo, outro material era o “pergaminho”, feito de pele de cabras ou ovelhas. A primeira tradução das Escrituras foi do hebraico para o grego, por necessidade já que os judeus se espalhavam pelo Egito e outros países, seus descendentes já não entendiam o hebraico e o grego era a língua dominante na região. A tradição das Sagradas Escrituras para o grego foi chamada de “Septuaginta” ou “Tradução dos Setenta”, porque, segundo a tradição, foram feitas por 70 sábios judeus a partir do século III a.C. Com a chegada do cristianismo as regiões dominadas pelo império romano, foi necessária a tradução para o latim. Com estas traduções e outras que surgiram começam a surgir problemas de traduções, pois uma palavra muitas vezes, quando traduzida perdia o sentido no texto original. O papa Damaso confiou a Jerônimo, com uma equipe de tradutores, a revisão dos Evangelhos em 382, depois se mudou para Belém e traduziu para o latim vários livros do Primeiro Testamento a partir da versão grega, depois deixou este projeto e passou a traduzi-los diretamente da versão hebraica, isto aconteceu entre 390 a 405. Esta tradução ficou conhecida com “Vulgata”. Durante muitos séculos não se produziu obra semelhante, no século 16 foi feita uma edição revisada da Vulgata. A imprensa foi inventada em 1450 por Gutenberg, e o primeiro livro a ser impresso foi a Bíblia em 1455.. A primeira tradução da Bíblia para a língua portuguesa foi em 1681 por João Ferreira de Almeida, que era evangélico, e teria publicado em um só volume sob o título de “A Bíblia Sagrada”. Em 1821 com o título de “Santa Bíblia”, foi publicada a tradução católica portuguesa do padre Antonio Pereira Figueiredo. Hoje temos várias traduções: Bíblia de Jerusalém (Paulinas), Bíblia Sagrada (Vozes), A Bíblia Sagrada edição Pastoral (Paulus), Tradução Ecumênica da Bíblia (Loyola) A Bíblias na Linguagem de Hoje (Sociedade Bíblica do Brasil), Bíblia do Peregrino (Paulus), entre outras.
Citações da Bíblia:
Nos manuscritos encontrados não havia títulos, nem a divisão em capítulos e versículos, como temos hoje, o que torna mais fácil a leitura e compreensão do texto. Em cada tradução da Bíblia são diferentes os títulos dos capítulos, variando de acordo com o tradutor. Para facilitar as citações dos textos bíblicos foi estabelecida uma abreviatura para cada livro da Bíblia, com duas ou três letras, esta tabela geralmente está no inicio de cada Bíblia. Para interpretar uma citação, como por exemplo, Mt 4,4,10b; 6,1-4.7s, precisamos saber o significado da virgula (,), do a, do b, do c, do ponto e virgula (;), do hífen (-), do ponto (.) e do ”s”.
Vírgula: separa capítulo de versículo. Por exemplo: Nm 4,2: lê-se da seguinte maneira: Livro de Neemias, capítulo 4, versículo 2.
Ponto e vírgula: separa capítulos e livros. Por exemplo: Is 6,1-7; Lv 4,7; Ex 2,3: lêem-se Livro de Isaias, capítulo 6, versículo de 1 a 7, Livro do Levítico, capítulo 4, versículo 7, Livro do Êxodo, capítulo 2, versículo 3.
Ponto: separa versículo de outro versículo, quando não seguidos. Por exemplo: Lc 3,15-16.21-22: Lê-se Evangelho de Lucas, capítulo 3, versículo 15 a 16, e versículo 21 a 22.
Hífen: indica a seqüência de capítulos ou versículos. As citações Jo 3-5; 1Co 14,1-5; Mc 1,5-12,9 lêem-se da seguinte forma: Evangelho de João, capítulos 3 a 5; Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 14, versículos de 1 até 5; Evangelho de Marcos, capítulo 1, versículo 5 até capítulo 12, versículo 9. O hifem significa “a”, “ao” ou “até”.
As letras “s” ou “ss” são usadas para versículos “seguinte” ou “seguintes”. Por exemplo: Dt 15,19s; 26,16ss. Lê-se da seguinte forma: Livro do Deuteronômio, capítulo 15, versículo 19 e seguinte. A segunda citação lê-se: Livro do Levítico, capítulo 26, versículo 16 e seguintes, isto é, até o final do capítulo.
Pode acontecer uma citação como esta: Tb 1,3-5,6a : lê-se Livro de Tobias, capítulo 1, versículo 3 até versículo 5, versículo 6(a) “primeira parte”. A “segunda parte” do versículo 6 não faz parte desta citação bíblica. Quando aparece a letra (b), quer dizer a segunda parte. Quando aparece (c), é que o versículo foi dividido em três partes.
BIBLIOGRAFIA
A BÍBLIA de JERUSALÉM
ARENS, Eduardo. A Bíblia sem mitos. Uma introdução crítica. São Paulo, Paulus, 2007
BORTOLINI, José. Tire suas dúvidas sobre a Bíblia. São Paulo, Paulus, 2002
ESTUDOS DA CNBB. Crescer na leitura da Bíblia. Nº 86, São Paulo, Paulus, 2002
GASS, Ildo Bohn. Uma introdução a Bíblia. 8 volumes, São Paulo,Paulus, 2002
MESTERS, Carlos. Flor sem defesa. Uma explicação da Bíblia a partir do povo. Petrópolis, Vozes, 1999
_______. Paraíso terrestre saudade ou esperança? Petrópolis, Vozes, 1999
PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A interpretação da Bíblia na Igreja. São Paulo, Paulinas, 1999
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