DESAFIOS PARA A EVANGELIZAÇÃO
Nos nossos dias a evangelização, no contexto urbano, torna-se, a meu ver, um desafio gigante. Gigante tal qual aquela figura, curiosa, que a Bíblia nos apresenta, Golias. E assim como Golias que tinha diversas características que desafiava a coragem dos israelitas para enfrentá-lo, tais qual sua altura, sua armadura e sua espada, também a cidade torna-se um gigante quase intransponível por conta, igualmente ao Golias bíblico, de características que transita desde o isolamento à alienação das pessoas, passando pela tentação de alcançar a graça de Deus através de um passe de mágica. Essas e outras características compõem o cenário desafiador que interpela a todos os cristãos que assumem seu batismo e como conseqüência, desse mesmo batismo, buscam a implantação do Reino de Deus aqui e agora nesse complexo contexto citadino.
Gostaria a partir da perspectiva de modelos de igreja e do fenômeno urbano vislumbrar uma possível ação pastoral das Igrejas em relação a esses desafios que marcam todo o processo de evangelização na cidade.
1. Modelo de Igreja Isolacionista ou Igreja versus sociedade.
Prática: Nesse modelo fica claro uma teologia construída a partir da negação do mundo, onde a evangelização, ainda ocorre, numa perspectiva interna que busca o fechamento dos fiéis em relação a tudo aquilo que acontece fora da sua comunidade eclesial.
Desafio: A Igreja não vive um processo de litígio com o mundo e as coisas que lhe cercam, por isso mesmo é preciso criar uma consciência relacional onde a ação pastoral contribui para um processo de interação e respeito para com nossa morada comum e tudo aquilo que lhe cerca.
2. Modelo de Igreja Intervencionista ou Igreja para a sociedade.
Prática: Percebe-se nesse modelo uma influência positiva do evangelho social numa dinâmica do cristianismo prático, entretanto sua ação se põe nas questões mais urgentes (estanques) soma-se a isso certo relativismo no relacionamento com a sociedade, pois só aquilo que é urgente tem sua atenção.
Desafio: Uma prática pastoral que entre na complexidade da sociedade com todos seus desafios inerentes a sua realidade sem se esquecer de que sua ação deve ser articulada e realizada, na sociedade como um todo, não apenas olhando-a e agindo como bombeiros que entram em cena só para apagar o fogo.
3. Modelo de Igreja Adaptativo ou Igreja da sociedade.
Prática: Nesse modelo a dinâmica do capitalismo entra na Igreja, seja na sua pregação (teologia da prosperidade) seja na sua atuação (lógica de mercado) onde a prática pastoral não é o processo evangelizador, mas sim o processo lucrativo. Se prima mais pela quantidade em detrimento a qualidade, portanto o culto é o local apropriado para o consumo dos fiéis.
Desafio: Inverter a lógica da relação de mercado que visa o ter para uma relação de valores que visa o ser. Levar as pessoas a partir de uma prática pastoral educacional discernindo os valores evangélicos que provocam transformações pessoais e sociais, por aqueles valores que assimilamos da barganha e do ganho fácil, onde se procura levar vantagem em tudo.
4. Modelo de Igreja Responsável, ou Igreja na sociedade.
Prática: Modelo que faz uma correta leitura da realidade que vive, numa dinâmica de diálogo e acolhida para com o diferente. Uma Igreja que vive sua vocação primeira que é a profética, onde não se furta da sua missão crítica (denúncia) de todas as mazelas da sociedade, mas junto a denúncia acompanha, sempre, uma nova possibilidade de vida por seu anúncio que implica numa transformação.
Desafio: Levar essa proposta de modelo de Igreja para todos os níveis sociais como uma nova possibilidade de uma religião encarnada na vida do povo que traz em seu bojo uma abertura para o futuro sem se esquecer do seu passado e celebrando o seu presente.
Bem, é claro que não tenho a fórmula do sucesso para os desafios que os grandes centros urbanos propõem a evangelização e creio que ninguém deva ter, mas acredito ser possível encarar esses desafios gigantes não com desalento, mas com fé e força. Não devemos contar somente com nossa capacidade, mas sim com a graça de Deus, que em tudo supera o gigante e forte Golias. Já houve um dia em que o pequenino Davi derrubou o gigante Golias e se Davi conseguiu essa proeza foi porque não contou apenas com suas forças, que, aliás, perto do gigante era nada, mas sempre contanto com a força d’Aquele que pode tudo, o Senhor. Sendo assim, também penso que devemos nos colocar a disposição de Deus confiando sempre n’Ele como origem e fim último de todas as coisas, mesmo quando interpelados por desafios verdadeiramente gigantescos.
Comentários
Postar um comentário